Lula anda reclamando da “baixa qualidade do Congresso”. Disse que nunca viu nada igual. E, de fato, não viu. Mas esqueceu de mencionar que foi ele quem plantou as sementes, regou com emendas e adubou com ministérios. Agora, o jardineiro olha o próprio canteiro e culpa a terra pela praga.
O Congresso virou um supermercado de emendas parlamentares: cada deputado empurra o carrinho cheio de verbas e sai sem nota fiscal. É a democracia do fiado. Todo mundo compra influência e paga em cargos. E o governo, que prometia acabar com a “velha política”, virou fornecedor oficial de desconto institucional.
O Congresso de Baixo Nível e o Governo de Baixa Voltagem
O Planalto perdeu a tomada. O governo parece aquele liquidificador antigo que só funciona se o fio estiver bem enrolado na tomada e o problema é que Arthur Lira controla o disjuntor.
As derrotas no Congresso, como a do decreto do IOF, mostraram que Lula não governa: ele pede. E quem pede, espera. E quem espera, é ignorado. O presidente reclama da “safra ruim”, mas foi ele quem contratou o agrônomo errado. Quando você distribui cargos como fertilizante, não dá pra reclamar se nasce erva daninha.
As promessas: um jardim de palavras murchas
Na campanha, Lula prometeu um país exuberante. Falou de crescimento, união, dignidade e justiça fiscal. Dois anos depois, o que floresceu foi o mesmo de sempre: discursos, powerpoints e obras com placas inauguradas antes do cimento secar.
A “Nova PAC” é quase uma “velha PAC” com maquiagem. O “Novo Arcabouço Fiscal” é um teto de gastos com novo rótulo tipo margarina “com sabor de manteiga”. E a união nacional virou aquele sonho bonito que só dura até abrir o Twitter.
A isenção do Imposto de Renda: promessa entregue por motoboy
A isenção do Imposto de Renda até R$ 5 mil foi a menina dos olhos da campanha.
Mas, quando chegou a hora de cumprir, o governo tropeçou no próprio discurso. Dois anos de promessas e nada de votação o Planalto parecia aquele aluno que estuda no dia da prova e ainda cola errado.
Até que, de repente, a isenção foi aprovada. Um milagre? Não. Um consórcio. Quem articulou foi Renan Calheiros, Arthur Lira, com as bênçãos de Hugo Motta e Davi Alcolumbre. Lula assistiu de camarote a sua principal promessa sendo entregue pelo motoboy errado. O Congresso que ele chamou de “baixo nível” resolveu o problema enquanto o governo ainda procurava a chave da impressora.

O orçamento secreto que virou público, mas continua secreto
O “fim do orçamento secreto” foi outra promessa de palco. O que mudou foi o nome, não a prática. Agora tudo é mais moderno: a corrupção vem com planilha e QR Code. O velho “toma-lá-dá-cá” ganhou PowerPoint e assessoria de imprensa.
É o Brasil digitalizado até o fisiologismo agora tem sistema online.
Lula e a arte de culpar o espelho
Lula 3.0 olha o Congresso e vê um circo. Mas o palhaço, às vezes, é o dono do espetáculo. O governo se diz refém de um Legislativo indomável, mas foi ele quem distribuiu as chaves das celas. Quando a base aliada é feita de aluguel, o inquilino não manda no imóvel.
E no fim das contas, a “safra ruim” de parlamentares foi quem entregou a única fruta madura do governo. Ironia das ironias: o Congresso que ele despreza colheu o que ele não teve coragem de plantar.
Conclusão: colheita amarga, culpa doce
Lula reclama da colheita, mas quem escolheu as sementes foi ele.
Chamou o centrão pra dançar e agora diz que o salão está cheio de maus dançarinos. Ora, presidente, quem escolhe o parceiro precisa saber o ritmo.
O governo Lula 3.0 prometia reconstrução. Entregou um canteiro de promessas murchas e uma política irrigada por ressentimentos. Se continuar assim, o jardineiro vai terminar o mandato colhendo aplausos de plástico e cercado de ervas daninhas que florescem melhor do que as ideias.
- Rod Pereira
Dramaturgo, estrategista de marketing, membro da Academia de Letras de Porto Seguro, cronista e provocador de ideias. “Meu texto é farpa e abraço, caos e poesia.Sempre com uma boa dose de ironia e humanidade”.