O bairro do Rio Vermelho, em Salvador vai ser palco de uma manifestação em protesto pelo assassinato da palhaça circense Julieta Hérnandez, venezuelana de 38 anos que foi morta em Presidente Figueiredo, no Amazonas, no dia 5 de janeiro, quando viajava de bicicleta para seu país natal.
O ato vai acontecer neste sábado (13), no Largo da Mariquita, a partir das 16h30, com saída pelas ruas de Salvador às 17h30 por meio de bicicletas para alertar sobre a violência contra mulheres que circulam pelas ciclovias do país inteiro.
O protesto, que também vai acontecer em outras capitais na sexta-feira (12), como São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Aracaju, foi organizado pela família de Julieta, que busca que uma repercussão nacional para o caso, principalmente pelo Brasil ser um dos países que mais registra casos de feminicídio.
A organizadora do protesto em Salvador, a publicitária Erica Telles, de 44 anos, é uma dessas mulheres que já foi assediada enquanto circulava de bike por Salvador. Ela, que também estará no ato no sábado, contou ao CORREIO sobre a dificuldade em ser ciclo-ativista em um país com excesso de assédios e mortes.
“Já tomei tapa, assediada, e isso acontece com grande frequência”, comenta a comunicóloga, que já pedala desde 2010. Ela recordou o vídeo que uma mulher foi assediada em Santa Catarina enquanto circulava com bicicleta: ‘Não somos respeitadas em nenhum momento’.
O caso não é isolado. A engenheira Carolina Diniz, de 29 anos, é natural de Belém, no Pará, e já sofreu assédio enquanto entregava comida para pessoas em vulnerabilidade nas ruas enquanto trabalhava como palhaça. Durante uma ação da Trupe, grupo que ela participava, um homem em situação de rua tentou beijá-la.
“Ele estava bêbado. Fui fazer a entrega do alimento, o homem me segurou e tentou me beijar a força. Outra vez foi quando estava entregando alimento, e um homem pediu por duas marmitas e eu comentei para ele aguardar um pouco, que iria providenciar. Mas ele se frustrou e fui ameaçada. No decorrer da ação, vimos que ele e a parceira portavam arma branca”.
Ela ainda lamentou em ter de fazer ações sempre com apoio de um homem, mesmo que boa parte do grupo seja formado mulheres.
Uma amiga palhaça de Julieta, Vanda Cortez, moradora da Chapada Diamantina, chegou a passar um tempo com a venezuelana para fazer trabalhos com ela. Ela descreveu a vítima como “uma grande artista, mulher que seguia seus instintos, uma artista independe, doce, carinhosa, sempre gentil com as pessoas”.
Segundo Vanda, a venezuelana estava circulando pelo Brasil havia quase 4 anos, passando por diversos estados, incluindo a Bahia.
“Penso que eu, como também uma mulher que viaja muito, que circula com sua arte e passa longos tempos muitas vezes sem encontrar nossa família, ela estaria retornando a casa. Findando um circuito de uma viagem longa para abrir um novo ciclo em sua vida”, diz a amiga.
Julieta foi assassinada por casal
Os amazonenses Thiago Agles da Silva e de Deliomara dos Anjos Santos são suspeitos da morte da artista no interior do estado. A Justiça do Amazonas decretou a prisão preventiva nesta terça-feira (9) após confessarem os crimes no último sábado (6).
Eles vão responder por latrocínio, estupro e ocultação de cadáver, já que Julieta teve o corpo queimado antes de ser assassinada e enterrada.
Julieta, no dia 23 de dezembro, estava dormindo na varanda da casa do casal, quando o homem exigiu que a esposa fosse roubar o celular da vítima, mas a mulher não aceitou. A venezuelana foi enforcada, jogada no chão, e estuprada pelo suspeito preso.
A esposa do homem, com ciúmes da cena do crime, decidiu atear fogo nos dois durante o estupro. Conforme a polícia do Amazonas, Thiago tentou apagar as chamas, e se deslocou para um hospital em busca de socorro. Enquanto isso, na casa do casal, Deliomara amarrou Julieta – que estava desacordada -, e a enterrou viva.
Fonte: Correio