Pela primeira vez, o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, reconheceu publicamente os crimes cometidos durante o período colonial, incluindo massacres de indígenas e a escravidão, e expressou a necessidade de indenizações. Essa admissão ocorreu durante um jantar com correspondentes estrangeiros, em meio às celebrações dos 50 anos da Revolução dos Cravos, que pôs fim a 48 anos de ditadura, a mais longeva do continente. Marcelo Rebelo declarou que Portugal “assume total responsabilidade pelos danos causados” pelos erros do passado e afirmou: “Temos que pagar os custos (pela escravidão). Há ações que não foram punidas e os responsáveis não foram presos? Há bens que foram saqueados e não foram devolvidos? Vamos ver como podemos reparar isso”. No entanto, o presidente português não especificou de que forma a reparação será feita.
Por mais de quatro séculos, ao menos 12,5 milhões de africanos foram capturados e forçados a viajar longas distâncias em navios europeus para serem vendidos como escravos. Aqueles que sobrevivessem às péssimas condições da viagem iam trabalhar nas Américas, especialmente no Brasil e no Caribe. Portugal foi o país que mais traficou africanos na era colonial – 6 milhões deles, quase a metade do total de pessoas escravizadas à época pelos países europeus. No entanto, em Portugal, esse período, durante o qual países como Angola, Moçambique, Brasil, Cabo Verde e Timor Leste, além de partes da Índia, foram submetidos ao domínio português, costuma ser visto como uma fonte de orgulho.
Há um ano, o presidente também afirmou que Portugal deveria pedir desculpas e assumir um papel de maior responsabilidade pelo comércio de escravos. Em um relatório do Conselho da Europa de março de 2021, a principal instituição de direitos humanos do continente europeu apontou que Portugal precisa de mais ações afirmativas para confrontar o seu passado colonial e o seu papel no tráfico de escravos, com o objetivo de combater o racismo e a discriminação.
Redação do +Bahia